UMA
BREVE REFLEXÃO DO PIBID-BELAS ARTES SOBRE A INSERÇÃO DA CULTURA POPULAR NA
EDUCAÇÃO BÁSICA
Diego Alves
Fernanda Aparecida Justo
Ludmilla Duarte
Stéphane Solrac
Licenciatura em Belas Artes- UFRRJ
Bolsistas PIBID
Introdução
O PIBID Belas Artes foi aprovado pelo
edital 2009, e iniciou-se em maio de 2010, com 18 bolsistas, tendo sido sua
continuidade aprovada em julho de 2012, com 22 bolsistas. Atualmente, atua no
Centro de Atenção Integral à Criança – CAIC Paulo Dacorso Filho (mais
especificamente com o 2º segmento do ensino fundamental), com as supervisoras
Silvana Gonçalves e Dilcéia Gonçalves do Nascimento, e na E. E. M. Profª Creuza
de Paula Bastos (1º segmento do ensino fundamental), com a supervisora Juliana
Minelli. Coordenado pela professora Ms. Luciana Dilascio Neves (DARTES-ICHS),
com a colaboração dos professores Dr. Arthur Gomes Valle (DARTES-ICHS) e Dr.
Bruno Matos Vieira (DTPE-IE).
Além da participação no cotidiano
escolar e demais eventos programados pela escola, os bolsistas do PIBID do
curso de Belas Artes/UFRRJ, têm, como parte de seu cronograma de trabalho, a
criação e o desenvolvimento de oficinas e atividades organizadas em parceria
com o supervisor da escola. Para tal, o bolsista deve ter o compromisso de
envolver os conteúdos de arte e outros saberes integrados em propostas
criativas que visem o ensino-aprendizado.
A experiência da docência ofertada pelo
projeto tem visado estimular os bolsistas a ampliar seu campo de visão quanto à
importância de se tornarem educadores, bem como de sua responsabilidade diante
do outro, propiciando oportunidade de ser um sujeito transformador do processo
educacional local.
Acreditamos, desta forma, na arte sendo
utilizada como instrumento capaz de contribuir para uma compreensão mais
abrangente do mundo que nos cerca, podendo fomentar maior autonomia no que diz
respeito à capacidade de reflexão, e consequentemente, contribuir para as
transformações sociais que se almeja educacionalmente.
As propostas de trabalho vinculadas ao
PIBID visaram uma prática docente para além das salas de aula, integrando, em
especial, através de oficinas, saberes da cultura popular brasileira à práticas
tradicionais como desenho e pintura, assim como à práticas relacionadas às
novas tecnologias, como o cinema de animação, ou mesmo, utilizando-se de
elementos cênicos como o teatro de sombras, encenações do Bumba meu Boi[1]
e da Nau Catarineta[2],
entre outras, resgatando importantes manifestações do folclore nacional.
Educação, um dos caminhos para
resgatar as culturas populares brasileiras
Muitos são os caminhos que podem
conduzir os futuros docentes no que diz respeito ao resgate das culturas
populares existentes no cenário brasileiro.
Dessas muitas possibilidades, o grupo de
licenciandos que fazem parte do Subprojeto PIBID Belas Artes optou por refletir sobre o Folclore na Educação do
Ensino Básico, desenvolvendo um trabalho baseado na “recriação” a partir dos
folguedos e da mítica popular. Pensamos nesta “recriação” como um modo de
apropriação de manifestações populares tradicionais, como fonte de referência para
um processo de criação que congregue o observado e o experimentado com as
vivências particulares dos alunos, traduzidas, seja pelo pensamento visual,
verbal ou pela dramatização.
A preocupação primeira da licenciatura
foi estudar e pesquisar como surgiram os conceitos de folclore e cultura
popular no mundo e no Brasil, relatando os principais teóricos e suas
interpretações sobre tais conceitos, bem como as transformações sociais que
ocorreram e que possibilitaram um discurso sobre a importância da preservação
do patrimônio material e imaterial[3]
dos povos. Já na educação básica, o objetivo estava em como transportar tais
questões em atividades didáticas que ajudassem o aluno a compreender e
vivenciar o folclore e suas manifestações, dentro do nível de aprendizado das
turmas trabalhadas.
Como parte da metodologia, o grupo
traçou um cronograma que proporcionava uma compreensão mais consolidada para o
público escolar. Nesses, os contos como o Bumba-Meu-Boi, foram sendo apresentados,
regados de imagens selecionadas, que transitaram entre xilogravuras, desenhos,
pinturas e fotografias analisadas e desenvolvidas como ponto de reflexão pelos
pesquisadores do grupo PIBID, professores e bolsistas licenciandos do curso de
Belas Artes.
Num segundo momento do programa
metodológico, foi efetuado um trabalho com alunos do 6º ano do CAIC, que visou
o despertar da criatividade e do imaginário ligado ao folguedo do
Bumba-Meu-Boi, através de atividades com desenho e pintura que visaram estimular
a observação e despertar a sensibilidade para os tipos de formas e
manifestações apresentadas, num espaço de recriação, fusão entre o visto e o
modo de sentir e imaginar de cada um.
Já com alunos do 7º e 8º ano do
fundamental, optou-se por abordar os padrões decorativos utilizados pela
Cultura Marajoara[4]
como referência para atividades com desenho, composição e pintura, que
objetivavam sensibilizar através das formas, num processo também de recriação,
na medida em que se contextualizava sobre a Arte Marajoara, explicitando sobre as
diversas contribuições que se somam na Cultura brasileira.
Ainda em 2010, o grupo assumiu o desafio
de efetuar junto aos alunos do CAIC três projetos que viriam futuramente a
complementar e consolidar as experimentações já vivenciadas em torno do tema da
cultura popular, em especial, pelo caráter interdisciplinar que as atividades
em questão iriam solicitar.
O primeiro dos projetos foi a encenação
do folguedo do Bumba-Meu-Boi, que surgiu pela curiosidade de alguns alunos em
experimentar com o próprio corpo “o fazer parte” da cultura popular, que até
então, estava sendo adquirido por via de conhecimento teórico. Toda confecção
do Bumba-Meu-Boi foi feita pelos alunos do CAIC, que ensaiaram e apresentaram a
dança folclórica, com a orientação dos bolsistas envolvidos no projeto.
Do mesmo modo, surgiu a proposta de
desenvolver uma encenação com Teatro de Sombras no Ensino Fundamental, a partir
da adaptação de um trecho do livro Martim-Cererê, de Cassiano Ricardo[5]
(1895-1974), unida à construção do roteiro e dos personagens. Deste modo, foi
possível desenvolver o projeto e transitar na área cênica, estimulando os
alunos a dialogarem verbal e visualmente, com as possibilidades de aprendizado
proporcionadas pela união das diversas áreas artísticas.
A terceira proposta tratou-se de uma
encenação com Teatro de Bonecos, tendo como tema folclórico O Auto da Nau
Catarineta, além de diversas oficinas de desenho e pintura com temática baseada
no folclore brasileiro, que foram desenvolvidas ao longo do processo.
Em 2011, foi realizada no CAIC uma
sequência de oficinas com o 8º e 9º ano do fundamental, que visaram à produção
de painéis coletivos com imaginário relacionado à cultura afro-brasileira,
tendo sido objetivado, durante a realização das oficinas, abordar sobre o valor
da cultura africana na formação da cultura nacional. Tal imaginário foi
sugerido através de imagens de manifestações culturais, com músicas e vídeos; e
de imagens de artistas brasileiros do séc. XX que retrataram várias cenas relacionadas
às contribuições africanas, tais como se mostram no samba, no jongo, no lundu,
na capoeira, nas festividades, nos aspectos religiosos, apresentadas na medida
em que se foi contextualizando sobre a cultura Afro, suas contribuições e
importância na cultura brasileira. Algumas imagens remontam ao século XIX, com
os tipos e manifestações de origem africana que marcaram nossa cultura desde
aqueles tempos, e mesmo antes, no período colonial. Tal contextualização aliada
à experiência artística dos painéis motivou o envolvimento pelo que estava
sendo vivenciado, tanto nos aspectos das cores e formas, como na apreensão dos
temas humanos repercutidos. Os painéis coletivos foram expostos no IV Fórum de
Consciência Negra da UFRRJ.
Em 2012, o PIBID Belas Artes passou a
atuar com o primeiro ciclo do ensino fundamental na E. E. M. Profª Creuza de
Paula Bastos. Lá também, uma das propostas foi o trabalho com teatro de
mamulengos[6],
que tem características inteiramente popular. Os alunos da escola tiveram a oportunidade
de resgatar lendas e contos, desenvolvendo seu imaginário ao criar seu próprio
conto. Os tradicionais contos suscitados despertaram a curiosidade, provocando
reflexões a partir da contextualização destes elementos suscitados. Foi
interessante observar que vários conteúdos trazidos da cultura popular serviram
de estímulo para uma interiorização das vivências particulares dos alunos,
muitas vezes, fundidas com a internalização/criação de personagens.
Visando transitar cada vez mais nas
várias linguagens artísticas, o projeto PIBID Belas Artes em 2012, trouxe um
novo desafio, desta vez trabalhando a temática folclórica através de
experiências com animação stop motion[7],
desenvolvendo desse modo a capacitação dos licenciandos quanto ao uso das
tecnologias como recurso a ser utilizado no ensino-aprendizado com foco na
cultura popular.
A duas propostas didáticas envolvendo
animação e relacionado ao tema da cultura popular foram realizadas para a Feira
Cultural do CAIC, em outubro de 2012. Estas propostas se vinculam a uma das iniciativas do projeto PIBID a
partir de 2012 – e, neste sentido, com a colaboração e parceria do prof. Dr.
Arthur Gomes Valle –, vinculado à pesquisa no campo da utilização dos recursos
do audiovisual e suas possibilidades didáticas na arte-educação, e em relevante
consideração, o potencial para interagir aspectos estéticos, culturais,
lúdicos, tecnológicos e interdisciplinares.
A primeira proposta didática realizou-se
pela criação de uma oficina no CAIC visando produção artística/cultural
elaborada pelos alunos da escola, sob a orientação dos bolsistas. A oficina
planejada objetivou a elaboração coletiva de uma animação produzida a partir de
desenhos no quadro negro, refeitos a cada frame,
de acordo com princípios da animação. Foi escolhida letra do compositor Luiz
Gonzaga, como inspiração para criação do roteiro e da dinâmica visual da
animação, e em homenagem ao seu centenário, objetivando interagir com saberes e
elementos culturais diversos. Visava, por fim, estabelecer conexões entre as
referências visuais do cordel brasileiro, da técnica de animação tradicional e
do imaginário presente na composição do cantor e compositor Luiz Gonzaga,
estimulando assim a produção artística dos discentes da Educação Básica.
A segunda proposta didática relacionando a
animação e cultura popular foi realizada como uma oficina, em um único dia,
também no CAIC. Utilizou-se o recurso do pixilation[8],
em que os alunos do terceiro ano do fundamental deveriam criar uma encenação
sintética a partir de um trecho poético retirado do livro A Pedra do Reino, de
Ariano Suassuna[9].
A atividade ocorreu como um evento da escola que tinha como temática a cultura
popular brasileira, objetivando desenvolver nos alunos a síntese criativa para
elaboração de uma encenação a partir do contato com um poema literário permeado
por aspectos da cultura popular, conjugando elementos visuais e sonoros deste
contexto, interagindo com noções básicas sobre a técnica do pixilation, relacionando arte e
tecnologia. A partir da interação com elementos e objetos relacionados ao
contexto apresentado, os alunos da escola criaram coletivamente uma encenação
que deveria sintetizar a compreensão do poema, inspirados também pelo ritmo do
repertório musical selecionado e contextualizado. A ação dramática elaborada
foi recriada através da movimentação solicitada pela técnica do pixilation. Por fim, foi gravada a
declamação do poema pelos alunos da escola e procedeu-se a edição do trabalho,
com a exposição do resultado do trabalho desenvolvido.
Como trabalhos que visam experimentações
didáticas neste campo, o resultado destas propostas demonstra grande
envolvimento por parte dos alunos da educação básica, propiciando a assimilação
de saberes e conteúdos diversos que podem ser inter-relacionados. Os dois trabalhos
resultaram na edição de vídeos que foram expostos em Evento da escola.
.
Por que Cultura
Popular? Desafios e dificuldades
O fato de executar atividades voltadas
ao resgate dessas culturas populares entre os alunos do ensino fundamental
alicerça a importância da educação na formação social e cultural. Foi neste
intuito que as atividades propostas conduziram todos os envolvidos a um passeio
pelo folclore e cultura popular brasileira, buscando maneiras criativas e
envolventes, interagindo com outras áreas dos saber, e mostrando que esse
patrimônio humano/cultural é merecedor de pauta extensa no ensino.
Compartilhar
com os estudantes a rica pluralidade cultural e social que caracteriza a nação
brasileira pode contribuir para a consolidação da democracia em nosso país,
desenvolvida através do respeito pela diversificação cultural. Como diz Maria
Laura Cavalcanti em seu texto, Entendendo o Folclore[10]:
“o folclore é visto como fator de compreensão entre os povos, incentivando o
respeito das diferenças e permitido a construção de identidades diferenciadas
entre nações que partilham de um mesmo contexto internacional”.
Os jongos,
sambas, maracatus, cantigas infantis, cirandas, dentre outros, são bens
culturais vivos e mantidos por pessoas que em sua vivência os praticam, e de
alguma forma, os deixam ainda existir em meio à sociedade contemporânea, cujas
exigências pragmáticas, por vezes, impedem de perceber a diversidade cultural
presentes nos elementos e acontecimentos da vivência cotidiana. Em meio à era da tecnologia e da cultura
midiática há muitos que acreditam que conhecer as culturas e crenças que fazem
parte de nossa história se faz desnecessário e desinteressante. E perguntamos se é possível, em especial,
como desafio para a educação, pensar em estratégias capazes de restabelecer o
diálogo entre o presente, sujeito ao devir, e o passado, que busca no contato
com as origens uma ampliação/contribuição para o presente?
Entre as
dificuldades encontradas por arte-educadores e outros profissionais está a resistência ao que é originário de culturas de
matriz afro-brasileira ou indígena. Mas como falar de cultura dos povos,
folclore, ritos religiosos - que de certa forma estão ligados a uma forma de
manifestação cultural – sem despertar preconceitos religiosos e/ou ideológicos?
Quais estratégias a educação pode se valer para transpor uma sociedade que se
encontrar insensível, preconceituosa ao que lhe parecer diferente, não vendo na
diversidade cultural a possibilidade de aproveitamento, de trazer para si algo
novo, criativo e diferente. Segundo Larrosa é preciso estimular a
sensibilidade:
Um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para
pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais
devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar,
demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a
vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza,
abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a
lentidão escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter
paciência e dar-se tempo e espaço. (2002, p. 24)
Considerando essas questões, uma das intenções do subprojeto é fazer com
que os alunos – das escolas conveniadas – ao entrarem em contato com diferentes
crenças, costumes e valores, façam com que essas informações tenham sentido no
mundo em que vivem, e que não considerem algo tão distante de sua realidade,
como de fato acontece.
Considera-se
assim, a importância de criar uma metodologia que seja capaz de contribuir para
a desconstrução de preconceitos culturais, assim como dos padrões tradicionais
de representação artística e estética, centrados unicamente na representação
realista ou de uma pura expressividade (centrada apenas na subjetividade),
“ampliando o potencial criativo, lúdico e investigativo das crianças e jovens,
e possibilitando a construção de uma linguagem que represente o seu próprio
universo simbólico” em diálogo com o visto e o vivenciado.
O professor de arte tem
como possibilidade levar o
folclore e a cultura popular para as aulas, utilizando o lúdico para “diluir”
fronteiras, permitindo que o dia-a-dia da sala de aula seja
um espaço de valorização da criatividade, do ato criador e reflexivo construídos
nas experiências culturais de cada individuo.
A escola representa assim, uma
experiência de aprendizados variados, cabendo aos docentes ou futuros docentes,
a busca por estratégias que auxiliem no despertar do interesse e que
complementem os dados do conhecimento com propostas fundamentadas na vivência e
na experiência. Desse modo, é necessário refletir criticamente sobre as
propostas educacionais, com seus objetivos e finalidades, processo essencial
para que cada vez mais os sujeitos em formação, tanto do corpo discente, como
do corpo docente, possam de fato fazer parte da História de maneira ativa.
O folclore faz parte da memória do povo,
memória esta que conta com os meios educacionais para manter acesa a chama das
tradições que passam de geração para geração. Sendo assim, a escola dá vida ao
folclore brasileiro resgatando dados que poderiam inclusive estar sendo
apagados, escondidos ou perdidos diante da urgência do tempo presente. Assim, o
folclore, por sua vez, encontra refúgio e abrigo nos contextos educacionais.
Conclusão
O folclore popular é em si um bem
cultural, um patrimônio e um patrimônio é uma herança. Herança essa que pode
ser material ou imaterial a depender de que contexto se analise.
Referenciar o saber popular através da
educação, estimulando ações que visem dar aos alunos conhecimento sobre o
patrimônio folclórico existente em nosso país é agir em prol de uma sociedade
que se constrói a cada novo amanhecer.
Os impactos dessas ações são avaliados a
cada finalização das atividades e estes dão indícios de uma pedagogia da
autonomia, pois tanto os docentes como os discentes envolvidos nesse processo
de construção do saber, evidenciam o “gosto do quero mais”.
Essa bagagem de experiências vividas por
todos é que faz essa herança cultural se alongar. Faz do passado sempre um
tempo presente, o que propicia um diálogo constante em várias áreas do saber.
Os conteúdos educacionais colaboram na
questão da salvaguarda desse patrimônio, pois promovem o conhecimento e
consequentemente a proteção desse acervo folclórico ao permitir que estes
adentrem as salas de aulas.
Essa ação da educação faz com que os
alunos despertem sua sensibilidade para a importância da preservação de suas
tradições, integra o saber social, transforma o cotidiano da sala de aula, além
de valorizar a multiplicidade cultural que encontramos no cenário brasileiro.
Educar, esse é o nosso desafio. Desafio
este que une todos os estudantes de licenciatura.
Mas sabemos que para formar educadores é
preciso reconhecer o papel social e cultural da escola, e, sobretudo, se
comprometer com as questões tão urgentes que regem nosso sistema educacional.
Acreditamos no valor da cultura popular,
suas potencialidades artísticas, e o quanto enriquece o processo de
ensino-aprendizagem. Quando pensamos na realidade do município de Seropédica,
onde não encontramos teatros, cinemas, manifestações culturais tradicionais ou
mesmo espaços destinados à promoção artística e cultural, consideramos que uma
cidade que cresceu em torno da UFRRJ não pode ficar periférica, deve progredir
com ela, e os profissionais da educação em formação estão intimamente
relacionados a este processo. Paulo Freire destaca, “... minha
presença no mundo não é de quem a ele se adapta mas a de quem nele se insere. É
a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da
História” (1999, p. 54).
Todo processo educativo demanda contínua
pesquisa, experiência e reflexão. Acreditamos que a arte na educação é de
caráter essencial para contribuir na formação de sujeitos reflexivos, criativos
e transformadores, e que, principalmente, se reconheçam enquanto seres
intelectuais, sociais e culturalmente ativos. No entanto, a busca de processos
e estratégias de aprendizagem que possibilitem tal contribuição necessita do
constante empenho dos educadores.
Transmite-se um conhecimento cultural
através da educação escolar, que tem potencial para se enraizar, em especial,
se tal trabalho estiver permeado pela vivência, considerando a participação
afetiva e intelectual do aluno, agregando seu “olhar” sobre o mundo num
processo contínuo de contrução e reconstrução. O trabalho com a cultura popular
e o folclore tem ainda potencial educacional por ser encantador, concebendo
vida à bonecos de mamulengos, a personagens do cotidiano ou a seres
sobrenaturais, trabalhando assim com o lúdico, o drama, o espírito crítico, a
ironia ou com o belo – compreendendo várias possibilidades de compreender este
“belo” – em suma, trabalhando com o real e o irreal de cada um, espaço
distendido do hoje, do ontem e do amanhã, pois a cultura é viva, podemos nos
apropriar dela e dela produzir, recriar e nos manifestar.
Referências:
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Itatiaia, 1982.
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Paulo: Martins Fontes, 2004.
BARBOSA,
Ana Mae. A
imagem do ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São Paulo: Perspectiva, 1991.
CASCUDO,
Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, 1954.
FRADE,
Cascia et al. BRASIL: Festa Popular.
Prefácio de Câmara Cascudo. Rio de Janeiro: Livroarte, 1980.
FREIRE,
Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes
necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
FROTA,
Lélia Coelho. Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro. Rio de Janeiro:
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LARROSA,
J. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Revista Brasileira de
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Rossini Tavares. Abecê do Folclore. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
MIRCEA,
Eliade. Imagens e Símbolos. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
RICARDO,
Cassiano. Martim-Cererê (O Brasil dos meninos, dos poetas e dos heróis). Rio de
Janeiro: José Olimpio, 2001.
Linkografia
Referências Audiovisuais utilizadas nos
trabalhos:
GURGEL,
Defilo. Nau Catarineta: Auto e dança da Marujada. Rio de Janeiro: Funarte,
1988. DVD vídeo (18 min). Projeto de Documentação da Dança Brasileira nº 2.
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular.
SANS,
Sergio. Eh! Boi. Bumba meu boi do Maranhão. Rio de Janeiro: Fundacen; Funarte,
INF, 1998. DVD vídeo (25 min). Projeto de Documentação da Dança Brasileira n º
4. Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular.
O
Povo Brasileiro (inspirado na obra de Darcy Ribeiro)- DVD
[1] Manifestação folclórica que
aparece em inúmeras regiões do Brasil, variando com as localidades e recebendo
diferentes denominações: boi-bumbá, boi-surubi, boi-de-mamão, reis-de –bois
etc)
[2] Tema encontrado no folclore
brasileiro, inspirado nas viagens marítimas portuguesas e retratando seus
episódios. Relaciona-se e/ou recebe outros nomes, dependendo da região:
Cheganças, Fandango, Barca, Marujada. Forma teatral de enredo popular,
convergências de cantigas brasileiras e xácaras portuguesas, composta por 21
jornadas com diversas coreografias.
[3] “Os Bens Culturais de Natureza Imaterial dizem
respeito àquelas práticas e domínios da vida social que se manifestam em
saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão
cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos lugares (como mercados, feiras e
santuários que abrigam práticas culturais coletivas)” http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=10852&retorno=paginaIphan,
acessado em 17.04.2013, às 11:30h.
[4] Objetos
culturais (em especial, de cerâmica) produzidos por povos que viveram na ilha
de Marajó (PA) na foz do Amazonas, no período pré-colonial de 400 a 1400 d.C.
[5] Poeta
e ensaísta brasileiro, representante do modernismo de tendência nacionalista,
tendo publicado em 1928, Martim-Cererê; fábula em forma de poema épico,
inspirado em nossa mitologia e nosso folclore.
[6] Tradicional
boneco do teatro popular nordestino.
[7] Técnica
de animação em que os objetos (bi ou tridimensionais) são fotografados quadro a
quadro, numa sequência de movimentos, criando a impressão do mesmo ao ser
montado cinematograficamente.
[8] Técnica
de animação stop motion utilizando-se
atores (pessoas), fotografadas quadro a quadro.
[9] Dramaturgo,
romancista e poeta, nascido em João Pessoa, Paraíba, em 1927.