UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO
RIO DE JANEIRO
XXI JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
Ficha de Inscrição
Arte no ensino fundamental: Construção mítica do Brasil pelo
Teatro de Sombras
Lucas Moratelli de Souza¹; Luciana França²; Rogério Alves³; Jéssica
Cristina Gonçalves Gomes4 & Luciana Diláscio Neves5.
1. Bolsista PIBID do
Curso de Licenciatura Belas Artes da UFRRJ, Discente do Curso Licenciatura
Belas Artes da UFRRJ; 2. Bolsista PIBID do Curso de Licenciatura Belas Artes
da UFRRJ, Discente do Curso Licenciatura Belas Artes da UFRRJ; 3. Bolsista PIBID do
Curso de Licenciatura Belas Artes da UFRRJ, Discente do Curso Licenciatura
Belas Artes da UFRRJ; 4. Bolsista PIBID do Curso de Licenciatura Belas Artes da
UFRRJ, Discente do Curso Licenciatura Belas Artes da UFRRJ; 5. Orientadora:
Coordenadora do PIBID, professora do Curso Licenciatura Belas Artes da UFRRJ.
Palavras-chave: Folclore; Descobrimento; Teatro de Sombras; Martin Cererê; Educação
Básica.
Introdução
Trabalho
desenvolvido por alunos que fazem parte do Programa de Iniciação à Docência –
PIBID do curso de Licenciatura Belas Artes da UFRRJ, em participação nas
escolas da educação básica vinculadas ao programa, neste caso, o CAIC-Paulo
Dacorso Filho. Como parte dos trabalhos realizados no CAIC que tinham por base
o Folclore e a Cultura Popular – e que seriam apresentados num dia de evento
específico desta escola, a Feira Cultural – , foi escolhido um trecho do livro
“Martim-Cererê” do poeta modernista Cassiano Ricardo (CASSIANO, Ricardo.
Martim-Cererê. O Brasildos Meninos, dos Poetas e dos Heróis. Rio de Janeiro:
José Olímpio, 2001) que conta de forma mítica e poética o descobrimento do Brasil. Tal referência, retirada
de um poeta modernista, não era fonte retirada diretamente do folclore, no
entanto, além de ser uma grande obra poética da literatura brasileira, segundo
o próprio poeta, Martim-Cererê havia sido concebido também com intenção de ser
utilizado didaticamente. Martim Cererê (1928) é uma espécie de narrativa em
versos, inspirada nas lendas do folclore brasileiro, contando uma espécie de
mito da formação do Brasil (uma construção mítica do povo do Brasil, em forma
de versos): Na história, Uiara e Aimberê, o marinheiro português e o africano
são componentes da narrativa, remetendo às três raças que foram essenciais para
a formação do Brasil e do povo. Assim, este tema permitiria uma série de
desdobramentos a respeito da formação étnica e cultural do Brasil, ajudando
certamente na compreensão sobre o que é o folclore e a cultura popular. Além
disto, aproveitaríamos a situação para explicitar que muitos artistas
consagrados produziram suas obras inspirando-se e bebendo desta fonte que é o
folclore e a cultura popular, tal como ocorre com artistas, músicos e poetas do
modernismo, a exemplo de Cassiano Ricardo, Mário de Andrade, Cândido Portinari,
Heitor Villa-Lobos, entre outros. Portanto, nosso objetivo foi utilizar tal
adaptação no sentido de valorizar a estima sobre o folclore, sendo o mesmo,
fonte de inspiração para muitos artistas consagrados. Assim, a partir da
adaptação deste trecho do livro Martim-Cererê, os bolsistas PIBID Belas Artes
desenvolveram um processo de trabalho junto aos alunos do 8º ano do CAIC que
resultaria numa encenação feita através do recurso do teatro de sombras
utilizando recortes bidimensionais e convergindo encenação, desenhos e músicas.
Materiais e Métodos
Inicialmente o trecho do Livro Martin-Cererê foi escolhido e
adaptado. Numa segunda etapa o foco do trabalho foi direcionado aos ensaios
para a apresentação da peça e o recolhimento das referências visuais que
formariam, ainda nesta etapa, os esboços dos personagens que comporiam o teatro
de sombras. O trabalho de criação dos personagens, que apareceriam apenas como
o recorte da “silhueta” das figuras, foi baseado em um intenso estudo das
formas e das qualidades plásticas envolvidas na técnica. O teatro de sombras
consiste em uma forte luz contra uma superfície lisa, tal como um pedaço de
pano branco. Os personagens são silhuetas recortadas de papel grosso que quando
são postas entre a luz e o tecido criam a sombra desejada. Com a dita técnica e
as possibilidades da mesma foi possível trabalhar de diversas formas a
interação entre personagens e cenários, que foram feitos essencialmente pelos
alunos do colégio. Na terceira etapa com todo o material cênico já criado, foi
feito ensaio da apresentação somado à definição das músicas em conjuntos com as
falas. O teatro de sombras se referenciou em imagens de xilogravura e
literatura de cordel para a concepção dos desenhos dos cenários e das
configurações dos personagens da história. Basicamente foi feito com recortes
sobre papel Kraft cartão. Foi interessante observar como atividades diversas puderam ser trabalhadas numa
única proposta. No caso do teatro de sombras, a partir da proposta de encenação
com apresentação e contextualização do tema (a história adaptada do livro
Martim-Cererê com sua abordagem mítica/poética da formação cultural do Brasil),
era possível trabalhar todas as etapas de confecção necessária à encenação,
abrindo espaço para tratar de questões do desenho e do estudo sobre a
configuração através da silhueta das figuras.
Com relação à encenação foi utilizada músicas do Quinteto Armorial,
cujos integrantes fizeram parte do Movimento Armorial, iniciado oficialmente em
1970, sob a liderança do escritor e grande defensor da cultura nordestina,
Ariano Suassuna; o Movimento destacou-se na música erudita de raízes populares,
inspirada nos cantares dos nossos Romanceiros, dos toques de pífano, das violas
e rabecas dos cantadores populares. A intenção na utilização destas músicas era,
mais uma vez, apontar exemplos que buscam resgatar nossas origens culturais,
numa união entre o erudito e o popular. Além destas, outra referência musical
utilizada foi um trecho (Bachianas brasileiras nº 5) do músico brasileiro
Heitor Villa-Lobos. Compositor do século XX, vinculado aos ideais modernistas,
Villa-Lobos é outro exemplo de quem bebeu amplamente dos temas populares e
folclóricos, das cirandas e cantigas anônimas. Todas estas referências foram
apresentadas aos alunos do fundamental na medida em que iam sendo
contextualizadas e incorporadas à encenação.
Resultado e Discussão
Através da proposta com o teatro de sombras foi possível fazer convergir
conteúdos e motivações diversas, unido interesses pelo enredo, encenação,
desenho, música. Com relação ao enredo salienta-se a importância na valorização
do folclore, revelando-se como constante fonte para a imaginação. Tanto no que
diz respeito ao seu aprendizado no âmbito da licenciatura, como no ensino
fundamental, priorizou-se a importância do folclore não como algo setorizado,
pertencente a uma classe específica a qual pouco temos contato, mas sim, como
algo que faz parte de nossa formação. Como afirma Câmara Cascudo:
A cultura
popular é a criança que continua em nós, em nossa formação cultural e social.
Tudo numa paralela: de um lado, as superstições, os mitos e as histórias que
nossa mãe nos contou, de outro o que aprendemos na escola, no dia-a-dia das
cidades, as viagens e as máquinas. A cultura primitiva prolonga-se na cultura
geral e nunca desaparecerá (CASCUDO, O Folclore está vivo, 1972, p. 5).
Conclusão
Afirma-se a importância da reflexão poética e, sobretudo, cultural
à respeito da formação do Brasil. A
encenação do livro Martim Cererê escrito pelo poeta Cassiano Ricardo nos aparece
como uma fonte de grande potencial didática estimulando o resgate e o interesse
pelas raízes culturais do país. No modernismo, houve grande intenção em resgatar
nossas raízes culturais; muitos modernistas foram dedicados pesquisadores e
mergulharam fundo na fantasia do nosso povo. Devemos a estes, muito do que,
hoje, conscientizamos de nossa personalidade cultural. O contato com tais
fontes pode contribuir para reflexões e soluções que venham fazer com que tais
temas possam ser melhores vivenciados e repercutidos entre os alunos da
educação básica, não como algo inerte, um exemplo estereotipado e ultrapassado
de algo que não mais nos pertence, mas como algo que pode ser “sentida” como
nossa, encontro com secretas fantasias, pensamentos e imaginações que, de certo
modo, também são nossas.
Referências Bibliográficas
RICARDO, CASSIANO. Martim Cerere. São
Paulo: José Olympio, 2003.
LIMA, Rossini Tavares. Abecê do
Folclore. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
CASCUDO, Câmara. Dicionário do Folclore
Brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, 1954.
FROTA, Lelia Coelho. Pequeno Dicionário
da arte do Povo Brasileiro. Séc. XX. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2005